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Hidrelétricas de Rondônia contra a população ribeirinha

Giovanna Cabral
João Victor da Silva
Júlia Sbampato
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Hidrelétrica de Santo Antônio

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Hidrelétrica de Jirau

Nicinha_e_o_rio_Madeira._Foto_Joka_Madru


No dia 10 de julho de 2007, a BBC Brasil já havia adiantado o assunto: a criação das duas hidrelétricas em Rondônia era polêmica. Além de não acabar definitivamente com o problema da falta de energia nos anos, foi preciso que o Ibama criasse 33 exigências ambientais para que as usinas de Santo Antônio e de Jirau fossem construídas no Rio Madeira.


De um lado, a ex-presidente e até então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, pressionando pela construção. Do outro, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, preocupada com a preservação ambiental. Ao final, o complexo hidrelétrico foi aprovado pelo Ibama e prometia adicionar 6.450 MW ao sistema elétrico nacional, correspondendo a 8% da energia total no Brasil.


Apesar de fato aumentar a produção de energia elétrica no país, a construção das usinas hidrelétricas no Rio Madeira encontrava forte oposição. Talvez não tão forte quanto  o movimento contra a construção da Usina de Belo Monte no Rio Xingu, mas ainda assim, significativo.


Alguns dos impactos ambientais apresentados foram: o acúmulo de sedimentos por trás do reservatório, perda de depósitos de sedimentos férteis em planicies aluviais utilizadas em atividades agrícolas, ntrodução de compostos de mercúrio no sistema fluvial e perda de peixes em termos de quantidade e diversidade.


Apenas esses impactos ambientais já são assustadores o suficiente para ser contra as construções, mas outro fator relevante também precisou ser considerado: os ribeirinhos que viviam na região.


Após as primeiras cheias durante a construção da Barragem de Santo Antônio, quase 3000 moradores ribeirinhos adjacentes à usina foram transferidos. A reportagem de Joka Madruga para o Terra Sem Males retratou da história de uma dessas moradoras, que afirmou “as hidrelétricas vieram para Rondônia e acabaram com a gente”.

 
Nilce de Souza Magalhães, conhecida como Nilcinha, viveu em Abunã, distrito de Porto Velho até os 46 anos. Até uma enchente alagar toda a sua casa. A solução, para a usina? Pagar auxílios de cerca de R$250 para que a família pudesse viver. 

 

 

O problema maior, além do óbvio, é que os moradores não foram apenas despejados de suas casas, como também perderam seus empregos. Cerca de 2400 pescadores da região, de acordo com o Estudo de Impacto Ambiental, iriam perder seus meios de subsistência. 


“Antes saíamos para pescar durante uma semana e voltávamos para casa. Não tínhamos barraco fixo durante a pesca porque o rio fornecia tudo que precisávamos. Hoje moro aqui há cinco meses porque lá onde eu vivia não existe mais lugar para pescar”, desabafou Nilcinha para o Terras sem Males.


Além da mortandade de peixes, que prejudicou na pescaria, os rios Mutumparaná e Cutia tiveram uma alteração na temperatura da água, causando poluição e contaminação e inviabilizando para o consumo humano. Para ter água potável, os moradores têm que ir no supermercado comprar.

Nicinha e o rio Madeira. Foto: Joka Madruga/Terra Sem Males/Águas Para Vida

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Placa da Usina de Jirau, financiada por bancos públicos e privados. Foto: Joka Madruga/ Terra Sem Males/ Águas Para Vida

Peixe morto boiando no rio Cutia. Foto: Joka Madruga/ Terra Sem Males/ Águas Para Vida

Nilce ainda explicou para Terra Sem Males que "antes da barragem, os pescadores podiam deixar a rede armada durante a noite toda, que no dia seguinte o peixe continuava fresco. Um saco de gelo era suficiente para manter a refrigeração até a venda. Hoje precisam de muito mais. Nos dias atuais, em menos de uma hora os peixes precisam ser retirados, senão perdem a qualidade e têm que ser jogados fora."

A reflexão que fica, no final das contas, é que às vezes os representantes pensam em soluções grandiosas para alguns problemas, mas acabam gerando problemas maiores para uma parcela da população, que, apesar de estar em menor número, ainda precisa ser considerada. A questão das hidrelétricas em Rondônia é apenas um exemplo. É preciso cobrar cautela dos representantes, para que nenhuma vida a mais seja afetada de forma tão drástica.

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