Transposição do Rio São Francisco: uma voz de esperança ao Ceará
GIOVANNA A. CABRAL
Onde antes era o ponto de convergência dos caminhos do Cabrobó e da Serra Talhada, em Pernambuco, até as vilas do Jardim e Porteiras, no Ceará , fica de Jadi. É nesse local localizado ao Sul do Ceará e com pouco mais de sete mil habitantes (estimativa do último censo realizado em 2010) que se encontra a próxima parada da Transposição do Velho Chico, no trajeto do Eixo Norte.
Para a cearense e engenheira agrônoma Mayara Rocha, a transposição do São Francisco traz mais vantagens do que desvantagens ao estado do Ceará , pois, desde 2012, o estado tem sofrido uma grande seca. “Um rio perene fornecendo água para os açudes e para pequenos rios seria muito interessante para a região e reduziria os problemas trazidos pela estiagem, como a baixa produtividade e escassez de alimentos, além do desemprego rural”, avalia Mayara.
O Projeto de Integração do Rio São Francisco é de responsabilidade do Ministério da Integração Nacional, atualmente coordenado pelo ministro Antônio de Pádua de Deus Andrade acrescentar, o Eixo Norte tinha uma previsão de término para o início de 2018, que foi prorrogada para julho e agora, ainda mais adiada para o ano que vem.
Jati – CE, 13/05/2014. Presidenta Dilma Rousseff durante visita à Barragem de Jati, do Projeto de Integração do Rio São Francisco – PISF. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
A Transposição é um projeto dos tempos do Império.
Em uma matéria publicada na A Pública, Agência de Jornalismo Investigativo (https://apublica.org/2014/02/transposicao-um-projeto-dos-tempos-imperio/), o engenheiro João Ferreira Filho, conta que em 1844 e 1845, o Nordeste enfrentou uma grande seca que motivou um dos primeiros projetos de levar as águas do Rio São Francisco para o Ceará. “O canal partiria de Cabrobó, em Pernambuco, para abastecer o rio Jaguaribe, um dos principais do Ceará.”
João Ferreira Filho, estuda e acompanha os projetos de combate à seca desde os anos 80, e conta na matéria outro projeto. “Em 1982, eu estava no 1º Grupamento de Engenharia, sediado em João Pessoa, em Pernambuco, e recebi a missão de acompanhar o projeto do coronel Mário Andreazza para a execução da transposição do São Francisco”. A seca no período militar durou de 1976 a 1983, porém, era mantida em segredo pelo governo. Na época, estudos mostraram que as secas teriam duração aproximada de cinco anos a cada 26 anos, e secas de menor intensidade, com duração de três anos, a cada 13 anos.
De 1997 a 1999, a seca enfrentada pelo Ceará deixou em colapso o abastecimento de água de Fortaleza e de outras capitais do Nordeste. Isso fez com que a pauta da transposição voltasse para discussão. Nessa mesma matéria é revelado que “O governo do presidente Fernando Henrique Cardoso determinou a elaboração de um projeto de transposição inicialmente com um eixo, de Cabrobó ao Ceará. O então governador de Pernambuco, Miguel Arraes, demandou que o Governo Federal ampliasse o projeto, incluindo o que é hoje o Eixo Leste”.
O projeto no governo FHC não foi implantado devido a uma polêmica entre empresas, entre elas, a Odebrecht e a OAS Engenharia, que haviam , segundo a A Pública, “obtido uma outorga pela Agência Nacional de Águas para usar 300 metros cúbicos por segundo para um mega projeto de irrigação, e assim não seria possível captar mais água sem comprometer o funcionamento da Hidrelétrica de Sobradinho”.
Em agosto de 2007, no Governo Lula, o Ministério da Integração Nacional conseguiu implantar o projeto, sofrendo inúmeros protestos e polêmicas. As obras foram iniciadas no Reservatório de Itaparica (Eixo Leste) e em Cabrobó (Eixo Norte). “É o mesmo local de onde, um século e meio antes, o Governo Imperial pretendia captar água.”
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A publicação do governo federal (http://www.mi.gov.br/web/projeto-sao-francisco/o-andamento-das-obras) mostra que, a iniciativa garantiu, até agora, o abastecimento de 9,2 mil habitantes do município - 4,2 mil na área rural e 5 mil na urbana. E chegará a beneficiar cerca de 7,1 milhões de habitantes em 223 municípios nos estados, dos quais 4,5 milhões somente na região metropolitana da capital cearense.
Segundo a engenheira, dos 184 municípios cearenses, 176 sofrem com problemas de estiagem por causa da seca que afeta o estado desde 2012. “As chuvas ainda estão abaixo da média e a expectativa é que em 2019 continue assim. Isso reflete diretamente na produção econômica do estado e a transposição é uma das soluções mais eficientes para esse problema”. Portanto, o projeto é importante para a melhoria da qualidade de vida e da economia do estado do Ceará, mas carece de políticas públicas para sua finalização.