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Pará: um estado, um povo e uma história moldados pelo rio.

Por: Ana Luiza Avelar.

A bacia hidrográfica do estado do Pará abrange área de 1.253.164 km². É formada por mais de 20 mil quilômetros de rios como o Amazonas, que corta o estado no sentido Oeste/Leste e deságua num grande delta marajoara.

Em um estado onde a água está tão presente, o rio é quem molda o estilo de vida de boa parte da população e é dele, também, que vem o sustento, o alimento e até a cultura desse povo.

 

Karla Barbosa, 23 anos, estudante, nasceu rodeada pelas águas paraenses. “Desde que eu me entendo por gente, eu tenho esse contato íntimo com o rio. Na minha infância eu morei em uma comunidade ribeirinha em São Sebastião da Boa Vista, no Marajó, e o rio servia não só como nosso acesso a outras comunidades, mas também nos fornecia o lazer e o alimento que, inclusive, também era nossa fonte de renda".

 

A “Veneza Marajoara”, como é conhecida a cidade onde ela nasceu, ganhou esse apelido por ser repleta de canais formados pela arquitetura das palafitas. O município fica a 125km da capital, Belém, cerca de nove horas de barco - a única forma de acesso disponível à comunidade.

 

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São Sebastião da Boa Vista, Marajó. Fotos: cedidas pela entrevistada Karla Barbosa.

José Leite, estudante - Zeca, como prefere ser chamado - é nascido e criado na cidade das Mangueiras, como Belém é popularmente conhecida. “Considero que a importância do rio é enorme e fundamental para caracterizar nossa cidade”, conta. "Belém é quase que toda banhada por rios. Só temos uma saída por terra e três através da via fluvial. Então, é uma cidade que gira em função dos rios desde a sua colonização”.

 

Em seus 402 anos de existência, a metrópole da Amazônia teve sua história moldada pela convivência e dependência das águas. "Eu acredito que o rio ajuda a contar a história do povo paraense justamente pela forma como ele se relaciona com a geografia da cidade.” conta Zeca. A cultura local é muito diversificada, principalmente a gastronômica, mas as características do povo e seus costumes não seriam os mesmos sem a Baía do Guajará. "Falou de Belém, lembrou de açaí! E essa fruta tão presente na nossa vida é encontrada nas ilhas que rodeiam a capital. Não só o açaí, mas todas as outras que fazem parte da nossa alimentação como a bacaba, castanha do Pará, pupunha, bacuri, cupuaçu…” conta Karla. Esses produtos vindos das ilhas circunvizinhas à capital e dos municípios do interior, fornecidos por via fluvial, são encontrados principalmente no Mercado do Ver-o-Peso, localizado às margens da baía e considerado a maior feira ao ar livre da América Latina. Para os locais, uma forma de se conectar às origens do povo paraense, em um espaço que fomenta o comércio local e abastece a cidade com variados tipos de gêneros alimentícios, ervas medicinais, artesanatos e uma infinidade de outras opções.

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Além da gastronomia, o folclore é uma das manifestações mais ricas da cultura popular paraense. As músicas, as danças, as lendas e os mitos do Pará nos dão a idéia perfeita da magia amazônica e da força vibrante das raízes culturais do homem da região. Assim como os demais aspectos culturais, o folclore também é altamente dependente dos rios para formar e contar histórias, como a da Cobra Grande, a lenda do Boto e da Mãe D’água, que são contadas pelos ribeirinhos e passadas de geração para geração.

 

Para Karla, as criaturas ocultas presentes nas águas são motivos de apreensão nas viagens de barco. "Eu nunca tive medo da travessia [do rio]. A viagem é longa, cansativa e, às vezes, eu fico com alguns pensamentos negativos, mas eu tenho mais medo dos contos folclóricos que envolvem criaturas que vivem nos rios do que da viagem em si. Hoje, quando vou visitar minha família no Marajó, eu não gosto de passar a noite lá na comunidade ribeirinha, porque eu tenho medo de que realmente aconteça algo relacionado às histórias que eu escuto”, conta a jovem, que há alguns anos mudou-se para a capital com a mãe e a irmã, em busca de mais oportunidades.

 

Os contos folclóricos, que ainda assombram a jovem estudante são, para Zeca, apenas uma forma lúdica de descrever acontecimentos cotidianos. “Eu particularmente não acredito nas lendas. Agora, o que eu considero muito importante é que essas histórias, de fato, fazem parte da cultura paraense e eu acho isso muito positivo, porque ajuda a manter viva a tradição dos nossos ancestrais".

 

As heranças que o rio deixou para a cultura paraense e a riqueza que ele ainda traz, são imensuráveis. Seja direta ou indiretamente, cada paraense, por mais diferente que seja, tem um laço forte e inextinguível com a água, pois é ela que molda e conta a história do seu povo. “Os rios fazem parte da rotina e do imaginário do paraense há muitos séculos, por isso, é um elemento intrínseco à nossa cultura e, exatamente por isso, é tão necessário preservá-los, não só como meio de transporte de pessoas e mercadorias, mas como meio de manutenção da vida e do imaginário regional”. 

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