Rio Capibaribe é o sétimo mais poluído do Brasil
Situação da Região Metropolitana de Recife é a mais crítica da bacia
João Victor Silva
O Rio Capibaribe, um dos rios de Pernambuco, possui grande importância para o estado, pois foi em sua várzea que se formaram os primeiros engenhos de cana-de-açúcar, devido a seu solo de massapê, que permitia o cultivo do produto. Também foi seu curso que serviu de acesso para o agreste e para o sertão, onde se desenvolveu a pecuária extensiva.
É no município de Poção, divisa com município de Jataúba, que nasce o Capibaribe, nas vertentes da Serra do Jacarará, localizada a uma altitude de 1100 metros.Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o rio banha 42 cidades pernambucanas, e possui cerca de 74 afluentes.Ele é dividido em Alto, Médio e Baixo Capibaribe, com 240 quilômetros de extensão, e sua bacia aproximadamente 5880 quilômetros quadrados. De sua nascente à foz, o Capibaribe corre pelo Agreste do estado e Zona da Mata, cortando também a Região Metropolitana do Recife (RMR).
Entretanto, atualmente o rio se encontra deteriorado pela poluição. Dados do IBGE de 2017 apontam que o Capibaribe ocupa a 7ª posição entre os rios com pior Índice de Qualidade da Água (IQA) do Brasil, apresentando IQA 48,5, de 100. Este resultado é classificado como regular pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb).
No estuário do rio se encontra a região mais problemática da bacia hidrográfica, próxima à foz, onde o rio encontra o mar. Esta área corta a RMR,com população de quase 4 milhões de habitantes, onde a maior parte vive na bacia hidrográfica do Capibaribe. Segundo o professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Dr. Gilvan TakeshiYogui, as águas desta região sofrem problemas de eutrofização, devido ao aporte de esgoto "in natura". Com isso,as águas sofrem problemas crônicos com a baixa concentração de oxigênio, principalmente próximo ao fundo.
O professor observa que eventualmente há mortalidade de peixes, como consequência da falta de oxigênio na água.O aporte difuso de resíduos sólidos também é uma das principais fontes de poluição do estuário. O acúmulo destes materiais sólidos é transportado na coluna de água e acaba se acumulando nas margens do rio, onde uma parte ainda é levada para o oceano, indo parar nas praias da RMR. Gilvan também ressalta que o sedimento do estuário também está contaminado por compostos químicos, como metais, hidrocarbonetos, tintas anti-incrustantes e poluentes orgânicos persistentes.
Para o docente, a bacia pode ser despoluída, mas afirma que isso exige primeiramente vontade política, sendo feita com a ajuda de especialistas no assunto, e com recursos financeiros disponíveis.O processo envolveria, com relação aos resíduos sólidos, a melhora do sistema de coleta de lixo urbano, expansão dos programas de reciclagem, e promoção de um amplo programa de educação ambiental na RMR.
Em relação à poluição da água, é necessário investir massivamente em saneamento básico, ampliação da capacidade das estações de tratamento de esgoto, e construir um emissário submarino para lançar os efluentes tratados diretamente no oceano. Já para a poluição do sedimento, é preciso dragá-lo da maneira menos impactante possível,dispondo o material dragado em locais apropriados, como um aterro industrial. O especialista estima que este processo, se iniciado, levaria cerca de 20 anos para ser concluído.
“O trabalho mais longo seria de educação ambiental da população. É preciso educar toda uma geração de crianças para mudar a mentalidade de descarte de lixo em locais inadequados. Outro trabalho que leva muito tempo é a implantação de um sistema universal de saneamento básico em toda a RMR”, ressaltou o professor.
Conforme Gilvan, possibilidades de melhoria existem. Entretanto, é necessário que ações do governo sejam realizadas para que o processo ocorra, com a participação de pessoas comprometidas em alcançar o objetivo. O governo deve ser pressionado tanto por cidadãos quanto por ativistas, para que seja efetivada a despoluição do rio.
Veja aqui estudo da UFPE sobre planta que denuncia a poluição no Rio Capibaribe.
Foto: Vitor Tavares / G1