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A crise hídrica no Distrito Federal

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(Foto: Agência Brasil)

Diego Terloni

Quarenta e oito quilômetros quadrados, o equivalente a 6.500 campos de futebol, cercado por mansões e a ligação entre duas importantes áreas da capital. Esse é o Lago Paranoá. Quem olha a imensidão do local e reconhece o apelido de “Cidade das Águas” não imagina que o entorno de Brasília passou por uma grave crise hídrica nos últimos anos. O último racionamento durou um ano e meio.

 

Em janeiro de 2017, a Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb) instaurou a medida no Distrito Federal. A cada seis dias, os moradores ficaram durante 24 horas sem qualquer fornecimento do serviço. O principal reservatório que atende o DF, a Barragem do Descoberto, chegou ao nível histórico de 5,3 %. Foram 513 dias convivendo com o rodízio.

 

Em busca de soluções para o problema, o governador Rodrigo Rollemberg (PSD) determinou a construção de uma subestação de captação no Lago Paranoá. Durante a inauguração, o político bebeu a água do local para provar a sua potabilidade. “Lamentavelmente, os governos anteriores não investiram em captação e tratamento de água. Nosso governo, desde o primeiro mês, compreendendo a importância, reservou recursos para esses investimentos”, afirmou em entrevista ao Correio Brasiliense.

 

A obra durou sete meses e foi entregue no ano passado sob fortes protestos de ambientalistas. É a primeira vez que uma estação de captação é instalada no mesmo local em que o esgoto tratado é despejado.

 

Se por um lado a água estava cada vez mais escassa, a qualidade deixava mais a desejar. Um estudo realizado pela Caesb apontou que nenhuma das 23 nascentes brasilienses apresentavam índices considerados ótimos, em uma escala que vai de 0 a 100. A maior nota aplicada foi na bacia do próprio Paranoá com o valor de 82 pontos

 

Paulo da Silva, 18, residia em Ceilândia, na zona leste do DF, e enfrentou o período com a redução da água nas bombas. O brasiliense se mudou da região há pouco mais de um ano para morar em Minas Gerais. “Era preocupante ficar até dois dias sem água na torneira. Tinha que economizar em tudo, não dava para fazer muita coisa”, disse.

 

Amostras coletadas pela Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (ADASA) apontam a presença de cianobactérias no Paranoá. Segundo o órgão, a presença dos micro-organismos se dá pelo descarte clandestino de esgoto no local. “Existe uma grande quantidade de lixo e um cheiro de esgoto. Isso indica um processo de decomposição“, afirmou, o professor José Francisco Gonçalves, docente da UnB em entrevista à Rede Globo.

 

No último mês, técnicos da Caesb encontraram ligações ilegais que seriam da Universidade de Brasília. A instituição foi notificada e pode ser multada em R$ 70 mil se não regularizar a situação em 60 dias.

 

A suspensão do racionamento se encerrou no dia no dia 16 de junho, mas isso não significa que novas interrupções podem acontecer até o final do ano, já que a questão meteorológica é fundamental. Apesar disso, o segundo semestre apresenta uma maior precipitação de chuvas na região, característica do cerrado brasileiro.

 

Cercada de políticos, espelhos d’água e o luxo dos três poderes. A cidade de Brasília enfrenta sérios problemas para a população em classes baixas e que dependem dos serviços essenciais de saneamento. Enquanto muito dinheiro é desviado nas esferas políticas, o povo sofre com a falta de aplicação dos recursos em obras para garantir o funcionamento correto do abastecimento.

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