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Rio Grande do Norte: rio e seca

                                                                                                                                                                          Cássia Xavier              

“Quando olhei a terra ardendo, qual fogueira de São João, eu perguntei a Deus do céu, ai, por que tamanha judiação, eu perguntei a Deus do céu, ai, por que tamanha judiação”. Esse é um trecho da música "Asa Branca", de Luiz Gonzaga, que retrata um pouco da realidade de quem é afetado pela seca nessa região.

A Região Nordeste do Brasil, é lembrada no imaginário das pessoas como a região castigada pela desertificação, paisagens com cactos, a população carregando baldes de água. Estereótipo criado segundo produtos, informações e representações midiáticos que  formam a opinião pública  sobre o imaginário da região.

Não que esse imaginário seja equivocado, pois a Região Nordeste pertence ao bioma da Caatinga, marcado por altas temperaturas, baixo índice de chuva e que esta vivendo um processo de desertificação. Mas o que muitos não tem conhecimento é que aquela região nem sempre foi assim.

Desertificação do Nordeste

 

Tudo começou na época do Brasil Colônia nos séculos 16 e 17, quando o ciclo de monocultura de plantação de cana-de-açúcar era fonte de grande riqueza para a coroa portuguesa. A região nordestina contava com o bioma da Mata Atlântica, que era explorada até então somente como fornecedora de lenha para construções e fabricação de engenho, mas deu lugar a degradação ambiental, provocadas não somente pelos engenhos mas também pelas usinas, queimadas e agrotóxicos.  Desta maneira alterou o solo, os rios viraram despejo de resíduos, as florestas desmatadas e fauna desabrigada de seu habitat e principalmente ocorreu a mudando na relação de natureza e  homem.

Com o passar dos séculos outros fatores contribuíram para aceleração da desertificação na região. Dados realizados pelo Plano Nacional de Combate à Desertificação, PNCD, mostram que a mineração excessiva, as praticas erradas de irrigação que geram a salinização do solo e ainda, como sendo a principal causa o desmatamento para a agricultura.

                                     Imagem: Blog Duca Help

“Que braseiro, que fornalha, nenhum pé de plantação, por falta d'água perdi meu gado, morreu de sede meu alazão": esse outro trecho da música "Asa Branca" remete à seca que a região está enfrentando. São 812 os municípios em estado de alerta devido à falta de água nos reservatórios. Um dos estados nordestinos que encontra-se  em estado de emergência  é o Rio Grande do Norte, tendo 167 municípios e com a população estimada de 3,5 milhões de habitantes.

A União declarou estado de emergência aos 147 municípios do Rio Grande do Norte. O estado enfrenta chuvas abaixo da media há 7 anos e com essa estiagem 13 reservatórios estão com somente 5 º/º de sua capacidade. Com isso, o grande problema enfrentado todos os dias pelos nordestinos não é a desertificação da região, é a falta do componente essencial para a sobrevivência. A inúmeras famílias que não possuem água em suas caixas d`água, tendo que recorrer a poços longes de suas casas, rios com águas improprias para consumo ou também aos caminhões pipas fornecidos pelo governo. São meios encontrados para populações menos favorecidas que precisam de água para sobreviver e tratar de suas pequenas criações e plantações.

                                                     Imagem: Site - Nossa Cidade

Rio Pontegi e a cidade de Natal

Natal, a capital do Rio Grande do Norte cresceu à “ sombra” do rio  Pontegi. Foi fundada em 1599, época do Brasil Colônia. Segundo dados do IBGE, em 2018, a população do município conta com  877 640 habitantes, sendo sua economia  baseada em indústria têxtil, comércio e principalmente de turismo nacional e internacional. A cidade tem seu território localizado em meio a quadro bacias hidrográficas, sendo a maior delas a do rio Pontegi.

Sendo marco da cidade e importante afluente  da região nordeste, o rio Pontegi, com nome originado do Tupi, que significa “ água de camarrão”. Ele totaliza 176 quilômetros de extensão de uma ponta até a outra, e é responsável por 39,19 º/º da área de Natal. Historicamente, o rio Pontegi faz parte da cultura de Natal, a cidade cresceu a suas margens, o rio é fonte de abastecimento, meio para o funcionamento do porto, utilizado para fins pedagógicos e esportivos. Além disso, há o valor social e cultural que os habitantes de Natal carregam em sua memória, pois o rio foi  forma de sobrevivência de milhares de pessoas do decorrer do tempo. Mas, devido a ação do homem tanto a nascente como a foz encontram-se extremamente prejudicadas.

Infelizmente, nos dias de hoje a principal função do rio é o despejo de lixo, resíduos sólidos e outros materiais são jogados em toda sua extensão. No primeiro semestre do ano foi realizada uma investigação da PM de Natal na qual constatou que a Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern) estava despejando esgoto sem tratamento no rio. Como medida para resolver a questão e encerrar a poluição hídrica do rio Potengi, a 45ª Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente de Natal requereu que o interventor trabalhe na estrutura interna da Caern, para realizar todos os atos destinados à adequação ambiental das estações de tratamento de esgotos.

                                    

                                   Imagem: G1 - Portal de Notícias 

 

Como forma de amenizar a situação de poluição do rio Pontegi, foi criado o projeto Barco Escola “Chama Maré” um dos programas do Instituto de Defesa do Meio Ambiente do Rio Grande do Norte, que tem como objetivo levar conscientização ambiental, conhecimento e lazer a população que vive próximo ao rio. O projeto realiza aulas que trabalhem a importância do rio, questões históricas, econômicas, e o mais relevante a questão ecológica, pois através do aprendizado ecológico os cidadãos irão apreender que a preservação do rio Pontegi é essencial para a comunidade e que todos podem fazer isto acontecer.

“ O chama- Maré tenta, através de seus professores, educar a cidade para a necessidade de resgatar a história e a vida de Potengi. A bordo do catamarã(embarcação com dois cascos) escola, podemos refletir e tentar reaver a história que a muito já se foi. Nunca imaginei que tivesse uma visão tão privilegiada e narrada de forma tão convincente da cidade de Natal”, conta o velejador Nelson Matos Filho.

                                    Imagem: Blog do Assis Braga

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