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O Mato Grosso, para além do Pantanal

Ana Laura Corrêa

Quando o assunto é água, em relação ao estado do Mato Grosso, a primeira lembrança é o Pantanal.

 

O bioma ocupa 7% do território do estado e está presente em 25% do Mato Grosso do Sul, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).  Ele é também conhecido por “reino das águas”, devido ao imenso reservatório de água doce, importante para o suprimento de água, a estabilização do clima e a conservação do solo.

 

Desta forma, o estado do Mato Grosso, que é o terceiro maior do país, atrás do Amazonas e do Pará, é, também, um dos lugares com maior volume de água doce no mundo. O estado divide suas águas em três bacias hidrográficas: Bacia AmazônicaBacia Platina e Bacia do Tocantins.

Irrigação

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA), os principais destinos da água no Brasil são para irrigação (969 m³/s), evaporação liquida (782 m³/s), abastecimento urbano (488 m³/s), termelétricas (216 m³/s), indústria (192 m³/s), abastecimento animal (165 m³/s), abastecimento rural (34 m³/s) e mineração (33 m³/s).

 

Ainda segundo o órgão, em 2015, o Mato Grosso era o sétimo estado do país com maior área irrigada: 247.365 hectares, atrás de Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Bahia e Espírito Santo.

Para 2030, no entanto, a projeção tendencial é de que a área irrigada chegue a 436.458 hectares. Desta forma, o estado seria o sexto do país com maior área irrigada, atrás de Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul, Goiás e Bahia.

Também de acordo com a ANA, o Mato Grosso registra 168 interferências nos corpos de água. Desses, os principais são 44 que têm por finalidade a indústria, 26 a irrigação e 25 o abastecimento público.

Equilíbrio

O grande uso da água pelo agronegócio faz com que alguns defendam que o setor é responsável pelas crises hídricas que atingem regiões do país.

 

“O impacto fica por conta de práticas mal feitas. Outorgas têm de ser bastante estudadas. Há o direito de se utilizar a água, é importante que ela seja utilizada para a produção de alimentos na medida correta”, esclarece o engenheiro agrônomo Rafael Silva.

De acordo com o ele, é preciso que haja bom uso da água, tanto na irrigação, quanto no uso urbano.

 

“Não se pode combater a irrigação, senão morre-se de fome. Da mesma forma, não se pode incentivar o mau uso da água na cidade e deixar faltar água no campo. Ou seja, os usos têm de ser feitos de acordo com a boa norma e técnica, de forma que todo o conjunto de atividades seja preservado”, explica.

Falta de água

Enquanto isso, os moradores sofrem com a falta de água no município de Sorriso, por exemplo.

A cidade é considerada a capital brasileira do agronegócio. O título foi conferido por meio da Lei 12.724, de 16 de outubro de 2012, publicada na edição de 17 de outubro do mesmo ano do Diário Oficial da União.

 

 

 

 

 

 

 

 

“Sorriso é o município que, individualmente, mais produz grãos no Brasil: 3% da produção nacional e 17% da produção estadual. Em seus 600 mil hectares agricultáveis, produz mais de 5,6 milhões de toneladas de grãos em um único ciclo de cultura; além de 26,4 mil toneladas de pluma de algodão. A soja é a principal cultura, atingindo quase 84% da produção, seguida de forma direta pelo milho”, informa a Prefeitura.

 

O município é o segundo do estado com maior número de interferências na água. Segundo a ANA, elas são 18, enquanto Várzea Grande, o primeiro, tem 30.

 

Rose Bueno mora em Sorriso há 15 anos. Ela disse que, neste ano, o preço da conta de água aumentou bastante, ao mesmo tempo em que caíram o fornecimento e a qualidade.

 

“Todos os dias, do meio da tarde até escurecer, falta água. E é bem difícil porque estamos no período seco e, à tardinha, há muita poeira. A gente quer molhar hortaliças, flores e lavar a calçada, mas, só se fizer de madrugada”, relatou.

 

Ainda segundo ela, a explicação dada pela Águas de Sorriso, responsável pelo abastecimento na cidade, é de que estão ajustando para um melhor atendimento. “Mas faz cerca de cinco anos que abrem asfalto, deixam valetas e asfalto remendado na cidade. Dizem que é para melhorias, mas ninguém está vendo”, disse a moradora.

 

A reclamação da falta de água também é feita pela moradora Fátima Breitenbach.

“Aqui no Mato Grosso, durante quatro meses do ano não chove. Nessa época, em todos os anos, ficamos sem água nos bairros um pouco mais altos. Ela só sobe na caixa depois das 23h. Para lavar roupa só depois desse horário ou muito cedo, por volta das 6h da manhã. Tem dias que não tem água nem mesmo para tomar banho. A água só volta a vir normalmente quando acaba essa época de seca. Temos dois rios grandes aqui, mas acho que a falta de água não tem relação com a baixa dos rios”, afirmou a moradora.

 

Sem respostas

Procurada pela reportagem, a Águas de Sorriso afirmou inicialmente que teria “o maior prazer em responder suas questões sobre nossa empresa e nossos serviços”. A empresa, no entanto, pediu que a solicitação de informações fosse protocolada em sua sede, em Sorriso. A falta de água, em um município que faz parte do estado com um dos maiores volumes de água doce no mundo, permanece sem explicação.

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(Foto: Divulgação)

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(Foto: Divulgação)

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