Diego Terloni e Luciano Vidal
Toda quarta-feira, o Senhor Carlos Miranda (65) acorda cedo para mais um dia longo de trabalho. Levanta por volta das 4h40, coa seu café, toma com leite quente e trata dos seus xodós – suas oito galinhas, que ele tem maior carinho, como se fossem filhas. Logo em sequência, começa a colheita de suas frutas e verduras. Depois é a vez de embalar as quitandas feitas por sua esposa, Maricelma Pereira (54). Quando arrumado tudo em sua caminhonete, ele sai de Ermida e vai para Divinópolis, com destino à feira da Praça do Santuário, a mais famosa da cidade, que começa por volta de 16h30 toda quarta.
Às 15h, Carlos já começa a montar sua barraca para vender seus produtos frescos na Praça do Santuário. É dali que ele consegue tirar sua maior fonte de renda, cerca de R$400,00 por semana. Estão expostos em sua banca legumes, verduras, ovos, quitandas, mais variados tipos de queijo, leite direto da roça, algumas variedades de frutas, mas o principal é que todos seus produtos são livres de agrotóxicos. O produtor preza pela saúde dos seus consumidores, pois para ele são como sua “família”. Perguntado sobre isso, ele diz: “meus compradores fiéis são responsáveis pelo meu sustento e de toda minha família. Eu vivo da agricultura familiar, mas para isso tem que ter alguém para comprar meus produtos”.
A Lei nº 11.326 de 24 de julho 2006 define como agricultor familiar o indivíduo que pratica atividade no meio rural, que não detenha mais que quatro módulos fiscais, que utilize predominantemente mão de obra familiar e tenha a renda predominantemente originada das atividades econômicas vinculadas ao estabelecimento, o qual deve ser dirigido com sua família.
De acordo com o Censo Agropecuário (IBGE, 2006) nesse ramo rural brasileiro, 5,2 milhões são de estabelecimentos produtores, dos quais 84% são de agricultura familiar. Agricultores familiares geram 38% do valor bruto da produção agropecuária nacional e garantem a maior parte dos alimentos consumidos no Brasil. Segundo a FAO (2015) a agricultura e agroindústria familiares nacionais respondem por 83% da produção total de mandioca, 70% da de feijão, 69% da de hortaliças, 59% da de suínos, 58% da de leite e 51% da de aves, entre outras.
Associação dos Pequenos Produtores da Agricultura Familiar de Divinópolis e Região (Aprafad), fundada em maio de 2007, conta atualmente com 103 agricultores familiares cadastrados e a Cooperativa dos Produtores da Agricultura de Divinópolis (Cooprafad) possui 98 cooperados. A associação desenvolve um trabalho de organização dos pequenos produtores familiares, orienta seus associados sobre os mecanismos estabelecidos pelo Governo Federal de apoio à agricultura familiar no Brasil. Além do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), a Associação e a Cooperativa orientam os produtores sobre o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e sobre a compra direta, por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).
Carlos é uma peça no processo de agricultura familiar para a Aprafad. Ele depende do funcionamento do sistema para seguir produzindo e vendendo seus alimentos nas feiras espalhadas pela cidade de Divinópolis. Ele se diz “realizado e satisfeito” com a vida de produtor da agricultura familiar.
Logo após o término de mais uma feira concluída com sucesso, é hora de voltar para casa, encontrar a filha Bruna Miranda (29) chegando da faculdade, sua esposa, tomar um bom banho e descansar, pois às 4h30, as galinhas do senhor Carlos esperam o carinho dele; sua plantação, os devidos cuidados, para ele continuar com sua jornada na agricultura familiar.