Da enchente à seca: falta de água pode ser considerada rotina no município de Divinópolis
Giovanna Cabral, Júlia Sbampato e Luísa Henriques
Desde 1972, a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) atua na cidade de Divinópolis, cidade-pólo do Centro-Oeste Mineiro, mas, apenas 46 anos depois da instalação, ou seja em 2018, é que a companhia iniciou as obras da Estação de Tratamento de Esgoto no município.
Apesar da empresa assumir a visão de “ser referência, junto à sociedade, como empresa que presta serviços com eficiência e qualidade”, a realidade no município de Divinópolis se encontra um pouco distante disso. Com notícias quase diariamente de que o abastecimento, por motivos diversos, será interrompido em alguns bairros, o sentimento de incerteza acaba deixando os moradores preocupados.
A primavera de 2018 está sendo marcada por fortes chuvas, que já causaram problemas na infraestrutura e no abastecimento de água na cidade. Em outubro, após uma tempestade, a Copasa precisou responder por seis bairros que tiveram o abastecimento suspenso. Segundo reportagem do G1, a falta de água ocorreu devido ao pique de energia após a chuva, que prejudicou o funcionamento da Estação de Tratamento de Água (ETA) por 24 horas.
No ano passado, a realidade era outra: a cidade chegou a aparecer na marcação vermelha do Instituto Nacional de Meteorologia, o qual é usado para marcar os municípios que estão há mais de 45 dias sem chuva. O período de seca iniciou em maio de 2017 e atingiu 80 dias sem chuva no início de setembro. O monitoramento da Agência Nacional de Águas mostrou que a estiagem baixou 40% da capacidade dos reservatórios de Furnas.
Qual é a solução, portanto, para o impasse: quando não chove, falta água e quando chove muito, também falta? Para a moradora da cidade, Sandra de Oliveira, a resposta é planejamento. “Principalmente quando chove muito, sempre falam que vamos ficar sem água porque o local que abastece ficou sem energia. Se isso acontece sempre, alguma medida de segundo plano já deveria estar pronta. E em casos de falta de chuva, poderia ter um reservatório que amenizasse a situação como foi ano passado”, pontua.
Usina hidrelétrica
Em Divinópolis, toda a distribuição de energia ocorre por meio das hidrelétricas de Cajuru e do Gafanhoto. Para que funcionem, portanto, precisam da força da água, mais precisamente, dos rios. Apesar de o Brasil ser um dos países mais ricos em recursos hídricos e utilizar de forma ampla de hidrelétricas, existem ainda as desvantagens que não podem ser desconsideradas, entre elas, o desmatamento, os alagamentos e a perda dos ecossistemas.
Quando há um desmatamento, consequentemente haverá um desequilíbrio quanto aos ecossistemas locais. A vida aquática, por exemplo, é profundamente afetada pela construção dessas hidrelétricas, havendo perdas de espécies de peixes.
Usina Hidrelétrica de Cajuru. Foto: Reprodução
Iniciativas de incentivo ao meio ambiente
Pensando em uma solução criativa para o problema de falta de água mesmo em épocas chuvosas, a ONG Engenheiros sem Fronteiras apresentou um projeto voltado para a comunidade rural de Branquinhos, em Divinópolis. Após avaliações, um modelo de projeto para Captação de Água da Chuva foi montado.
Na ideia, um reservatório seria colocado sob a laje, onde a água iria descer por gravidade, evitando futuros gastos com bomba. “De acordo com os cálculos feitos, iremos usar um reservatório de 5.000 litros, e as tubulações terão um diâmetro de 100 mm. Todos os dados coletados e pesquisados foram pensados na economia, praticidade, eficiência e, majoritariamente, na sustentabilidade”, explica a ONG.
A ONG apresenta todo o funcionamento do modelo, desde o captador pelo telhado até o filtro para reter impurezas e a rede de reuso, para que a água não se misture com água potável. Apesar de ser apenas um projeto, a ideia pode ser considerada uma solução, não apenas para a comunidade em questão, mas para outros possíveis problemas de abastecimento na cidade como um todo. São, pois, soluções criativas para problemas que são de urgência.