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Caatinga : o saber das comunidades

Cássia Xavier e Maira Lima

“A oiticica produz óleo. A imburana, com flores rosas, e a sempre-presente carnaúba apresentam-se como pontos num emaranhado de folhagens e arbustos espinhosos. Há também o cróton ou caatingueira, o marmeleiro e a aroeira, bromeliáceas com folhas espinhosas e flores em densas espigas, resistentes e coloridas”

Esse pequeno trecho do poema Caatinga, de Márcia Laini, representa um pouco da sua diversidade, pois é o único bioma com distribuição exclusivamente brasileira, sendo o bioma mais diversificado do mundo. Com 844.453 Km² se estende no estado do Ceará e mais de metade da Bahia, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte; quase metade de Alagoas e Sergipe, além de pequenas partes que se localizam em Minas Gerais e no Maranhão. O clima da Caatinga é considerado semiárido e é caracterizado por altas temperaturas, com médias anuais entre 25°c e 30°c. Apesar de algumas áreas sofrerem com a seca, uma das características do solo é a alta variabilidade, onde em alguns pontos há a retenção de chuvas.

O nome Caatinga significa mata branca em tupi-guarani, pelo fato de ocorrer vegetação no período de seca, que perde suas folhas e fica com aspecto esbranquiçado. Segundo o site do IBGE https://brasilemsintese.ibge.gov.br/territorio.html podem ser identificadas cerca de 932 espécies de plantas na região.

A Caatinga é responsável por 11°/° de todo território brasileiro e, em sua área, concentra-se um grande número de habitantes: são, aproximadamente, 27 milhões de pessoas. Grande parte delas é dependente dos recursos dessa vegetação para sobreviver, e, muitas, vivem longe de povoados e recursos diversos.

O conhecimento de geração a geração

Até os dias de hoje, por meio da oralidade, moradores da região da Caatinga aprendem e passam saberes e conhecimentos sobre o potencial das plantas medicinais. O uso desses recursos para tratamentos está ligado a problemas socioeconômicos que, muitas vezes, a população enfrenta. O saber está presente na memória de muitos idosos que já viveram e presenciaram fatos nos quais os conhecimentos orais foram importantes para a melhoria de alguém.

A relevância desse conhecimento oral sobre o valor medicinal das plantas https://issuu.com/revistajornalismoecidadania/docs/n23jcfbclid=IwAR3N7BZOr_Yxg3e66sfe7r5MrlI3qTWPwrjXB1a1fJ1jz9AdVPfvwqEs5Y tornou-se importante para que, além de contribuir com a comunidade presente na região, gera informações importantes que são utilizadas como base para novos medicamentos. Por isso o Instituto Nacional do Semiárido juntamente com a Universidade Federal de Pernambuco realiza um projeto com famílias tracionais da caatinga promovendo atividades, pesquisas, categorização para preservar o saber dessas plantas medicinais.

O poder das plantas medicinais

A Caatinga, ainda nos dias de hoje, é conhecida como um bioma da desertificação, caracterizado por terra seca, com pouca vegetação e grandes períodos de estiagem. Mas, apesar disso, ela também tem diversidade e riquezas ecológicas, e são essas peculiaridades que tornam a Caatinga, base de estudos para fabricação de remédios. Algumas plantas como Aroeira, Joazeiro, Mororó, Catingueira, Angico, Faveleira, Jurema Preta, são utilizadas, pela população, em casos de processos inflamatórios, doenças intestinais e cicatrização de ferimentos.

O uso dessas plantas pelas comunidades geram, também, pesquisas científicas. Uma delas, realizada atualmente por pesquisadores da USP e da Universidade de Luisiana, constatou que a semente de uma trepadeira tem uma proteína que, junto a anticorpos, pode ser capaz de combater o HIV http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2017/08/pesquisa-usa-planta-encontrada-no-nordeste-para-combate-ao-hiv.html . O estudo segue em processo, sendo o próximo passo, a realização de testes. A preservação dos saberes sobre as plantas medicinais é importante tanto para a questão sociocultural e histórica, quanto para o desenvolvimento de pesquisas na área de saúde, além de ser um meio de contribuição para a valorização da Caatinga.

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